Vivemos num tempo em que a conexão se tornou um imperativo. Conectar-se à internet, ao outro, ao mundo — esse é o grito silencioso da modernidade líquida descrita por Zygmunt Bauman. Estamos juntos, mas sozinhos, como alerta Sherry Turkle, psicóloga do MIT. Paradoxalmente, na era da hiperconectividade, o maior desafio do sujeito moderno é justamente a conexão mais importante: com si mesmo.
O Dr. Arthur Guerra, em sua coluna mais recente, observa o aumento da busca por eventos presenciais: shows lotados, festas cheias, cinemas abarrotados. Esses comportamentos, segundo ele, são a expressão de uma sede urgente por presença — não apenas física, mas humana, relacional, afetiva. Vivemos rodeados por telas, mas sentimos falta de toques, olhares e silêncios compartilhados. Essa reflexão nos convida, como psicanalistas e teoterapeutas, a pensar: por que, afinal, estamos fugindo tanto de nós mesmos?
O ruído do mundo e o silêncio interior
O barulho externo muitas vezes serve como fuga do barulho interno. A presença constante de redes sociais, notificações, vídeos curtos e reels nos impede de parar e pensar. É como se o mundo dissesse: “Continue rolando para não se escutar.” Mas a alma grita. E quando o grito é silenciado, ele se transforma em sintomas: ansiedade, insônia, crises existenciais, vícios e até ideação suicida.
Na psicanálise, Freud já havia observado que o sintoma é uma formação do inconsciente, uma mensagem cifrada. Jung, por sua vez, nos lembra que “quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”. Mas como olhar para dentro num mundo que nos empurra para fora o tempo todo?
A Teoterapia, ao integrar o saber psicanalítico com os princípios da fé cristã, propõe uma resposta mais ampla: desconectar-se do mundo pode ser o primeiro passo para reconectar-se com Deus e com a própria identidade. Jesus mesmo nos oferece esse caminho: “Mas Jesus retirava-se para lugares solitários e orava.” (Lucas 5:16)
A solidão sagrada e o reencontro
A Bíblia é cheia de narrativas em que o isolamento precede o reencontro. Moisés foi ao deserto e encontrou sua missão. Elias, sob a ameaça de Jezabel, entrou numa caverna e ali ouviu a voz de Deus não no fogo ou no terremoto, mas no sussurro suave (1 Reis 19:12). Até mesmo Paulo, antes de iniciar sua missão apostólica, passou anos em silêncio e anonimato em Tarso (Gálatas 1:17-18).
Essas experiências de desconexão do mundo são, na verdade, conexões profundas com o verdadeiro eu, com a voz interior e com o Espírito Santo. Em uma sociedade que venera a produtividade e a exposição, silenciar pode parecer um erro. Mas é justamente ali, no deserto do digital, que a alma começa a falar.
Para o novo psicanalista cristão, esse é um campo fértil de observação: pacientes hiperconectados estão cada vez mais desconectados de si. A prática clínica mostra que muitos resistem ao silêncio na sessão. Há quem não suporte dois segundos sem palavras. Outros sentem angústia diante de perguntas simples como: “O que você sente agora?” Isso revela uma ferida espiritual: a perda do contato com o próprio mundo interno.
A clínica como lugar de reencontro
A clínica, especialmente a teoterapêutica, precisa se tornar esse lugar de reencontro. Quando o paciente entra e se senta, ele não está apenas buscando ajuda, está buscando um santuário psíquico e espiritual. Ele deseja, mesmo que inconscientemente, encontrar um lugar onde possa calar a mente, abrir o coração e ser ouvido sem ser julgado.
A Teopsicoterapia nos dá uma direção clara: acolher, escutar, resgatar. O terapeuta torna-se uma ponte entre o mundo externo, caótico, e o mundo interno, esquecido. Como disse Winnicott, “é no espaço potencial que o verdadeiro self emerge.” Esse espaço, na Teoterapia, também é espiritual, porque ali a presença de Deus se manifesta na escuta compassiva, no silêncio respeitoso e na condução terapêutica centrada no amor ágape.
O Salmo 46:10 nos lembra: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus.” Aquietar-se é desconectar-se. Saber quem é Deus é reencontrar quem somos n’Ele.
A alma precisa de pausas
Nietzsche escreveu: “A vida sem música seria um erro.” Talvez hoje pudéssemos dizer: a vida sem pausas seria insuportável. A alma precisa de pausas como o corpo precisa de sono. E a Teoterapia reconhece essa verdade. É por isso que o descanso, o sabá, o silêncio, o retiro, são práticas espirituais profundamente terapêuticas.
A prática do silêncio pode ser uma intervenção clínica poderosa. Existem pacientes que voltam a si após um minuto de completo silêncio na sessão. Outros, quando convidados a deixar o celular desligado por 24h, vivem verdadeiras experiências de abstinência, revelando o quanto o vício digital é, muitas vezes, uma estratégia de evitação emocional.
Como terapeutas, precisamos ensinar aos nossos pacientes — e a nós mesmos — que é possível e necessário se desconectar para reencontrar o centro.
O corpo também sente a falta de silêncio
Neurocientificamente, sabemos que o excesso de estímulos digitais afeta diretamente o sistema límbico, responsável pelas emoções, e interfere na produção de melatonina, prejudicando o sono, o humor e o equilíbrio hormonal. A constante ativação do sistema de alerta cerebral (sistema reticular ativador ascendente) provoca uma sensação permanente de urgência, mesmo quando não há ameaça real.
Desconectar é, portanto, um ato de cuidado físico, emocional e espiritual. É permitir que o cérebro entre em modo de regeneração. É sair da lógica do “fight or flight” e entrar no estado de repouso e digestão do sistema parassimpático. A Teoterapia vê nisso um chamado à restauração: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11:28)
O valor do “estar presente”
O fenômeno descrito por Dr. Arthur Guerra aponta para uma esperança: as pessoas ainda valorizam a presença. Ainda querem se ver, se tocar, se escutar. A busca por shows, cinemas e festas revela que o humano não está totalmente perdido. A alma sabe do que precisa, mesmo que o ego tente fugir.
Cabe a nós, teoterapeutas, nutrir essa semente do desejo de presença real. Precisamos incentivar o retorno às conexões profundas, ensinar a arte da escuta ativa, ajudar o paciente a reencontrar-se com sua essência e com seu Criador. Desconectar, aqui, não é negação do mundo, mas abertura para uma experiência mais íntegra e verdadeira da vida.
Conclusão: Desconectar é um ato de fé
Em última instância, desconectar-se do caos é um ato de fé. É acreditar que o mundo continuará girando mesmo que não estejamos online. É confiar que há um propósito além das notificações. É repousar na promessa de que “os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como águias” (Isaías 40:31).
Para o novo psicanalista que trilha também o caminho da Teoterapia, essa é uma lição essencial: somente quem aprendeu a silenciar pode conduzir outros ao reencontro consigo e com Deus. Porque o maior encontro da vida não é com um show, com uma festa ou com um feed. É com a própria alma — e, nela, com o Deus que nos habita.
📩 Fale com a gente. Vamos trilhar juntos esse caminho de cura, integrando a fé com o cuidado emocional.
Você não está sozinho. E há um lugar de acolhimento, escuta e restauração reservado para você.
Quer saber mais?
Entre em contato para agendamento e descubra como podemos caminhar ao seu lado nessa caminhada!
Receba gratuitamente o E-book: 5 sinais que seu casamento pode estar acabando:
Desejo a você e sua família uma semana na Graça.